quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Bailarina

 



Bailarina, você deve tê-la visto.
Sorrindo, passeando, cantando e encantando.


Ela sorria, em um brilho intenso como os postes da avenida gigante de São Paulo.


Ela passeava, e deslizava como uma dançarina na ópera de Viena.


Ela cantava, não só as canções de amor, mas dava seu show com qualquer palavra e qualquer tom.


Ela realmente encantava, era quase de cristal.

Ela era tão real.



Mas ela teve dias corridos,
e não quis parar.


Mas ela tinha alguém que a aprisionava,
e preferiu não se soltar.


Seu show, que parecia ser só pra mim,
era só pra iludir.


E todas as músicas, enfim, não eram de amor.
Resumiram-se apenas a um "tá bom".


E no fim das contas, todo aquele encantamento,
era apenas de um cristal que se quebrou.




domingo, 3 de maio de 2020

Rosa


E naquela noite de sábado vieram me dizer que você tinha morrido... E aí a minha pergunta pra médica que foi: “qual é o procedimento agora?” seria na verdade pra você. E as tantas coisas que estavam passando na minha cabeça e eu precisava falar também eram pra você.

Mas aí a sua casa estava vazia, e o seu quarto também... Fui procurar uma roupa e não sabia qual você gostaria que eu escolhesse. A única coisa que eu lembrava era que você queria uma meia, igual as que você pediu pra ficar quentinha na clínica. Foram essas as suas palavras junto com “você vem me buscar na terça, né?” que eu ouvi pela última vez.

Não fazia mais diferença a meia que eu tinha escolhido, nem a bolacha champagne que você adorava, nem as discussões com os arrependimentos. O que sobrou não era nada, e com o nada não  há muito o que fazer.

Ainda no sábado anterior, na nossa conversa mais longa de muitos anos, depois de comer o pudim de caixinha que você fez pra me esperar, conversamos sobre a alegria de se ir depois de um dever cumprido na Terra. E que por isso não se chora nessas horas.

Mas hoje não deu, Mama. Não deu pra passar esse dia longo de sol, sem nenhuma nuvem, sem pensar nas coisas que aconteceram nesses anos todos. Eu juro que queria lembrar dos bons momentos pra que eu tivesse uma saudade menos triste que agora, mas hoje não deu. Acho que em breve eles voltarão.

Pelo menos lembro do seu apoio incondicional, lembro de reclamar de coisas muito ruins que já foram, e da vontade de te telefonar pra contar como tudo está melhor. Mas seu telefone está aqui em casa e você não.

Seus documentos vieram pra cá. Suas panelas e suas formas, também. Aquelas mesmas da comida tão deliciosa que você fazia. Elas vão se deteriorar. O cheiro da comida, o sorriso no rosto na minha chegada e a cara brava das brigas, esses vão ficar (jamais vou esquecer da famosa frase: “a gente briga, mas a gente se ama né?”).

Sim, Dona Rosa, a gente se ama. E já que sua última mensagem foi um “te amo, Deus te abençoe”, junto de uma figurinha de uma rosa, vai uma chuva de rosas pra você, Dona Rosa.

Te amo

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Adeus



Olá passado!

Estou te deixando pra trás. Já faz muito tempo que você não me serve mais, mas por algum motivo ainda convivo com as coisas que você me trouxe.

Você levou meus sonhos e os transformou em dívidas. Você levou meu rock’n’roll e transformou em música clássica. Você levou meu sorriso e a alegria de achar que tudo estava bem, e o transformou em indiferença e dor.

Mas agora seu vento e o meu vão soprar pra lados opostos. Você vai olhar pra trás e eu pra frente. Seu rumo do pesadelo vai se afastar e eu vou continuar daqui em diante: em busca da sinceridade, da preocupação, do cuidado e do amor.

Espero que não sobre nem as roupas que usei, os carros que comprei, as malas que usei para viajar, as casas que morei. Espero que as marcas que me deixou possam ir embora junto com você, assim como a raiva que eu desperdicei. Que seja trocada pela única percepção possível de você: a indiferença.

Tchau passado! Vou ficar com quem me merece... vou ficar comigo. Tchau passado! Feche sua porta. Eu abrirei a minha.

Adeus


sábado, 7 de setembro de 2019

Quando desistir é a melhor opção

Desista de desistir



Hoje eu estava ouvindo, por coincidência, uma música chamada “Don’t give up”, do Peter Gabriel, onde, entre outras frases, a música fala que fomos ensinados a lutar e não desistir, porque existe um lugar a que pertencemos, ou que nos preocupamos demais, pois tudo vai ficar tudo bem.

E procurando algum texto sobre desistência, só achei textos em que “não podemos desistir”. E porque não se é algo espetacular?

Desistir não é um comando de gente fraca, sem força de vontade, que não se posiciona. Eu batalhava, insistia, fazia dar certo, e as coisas simplesmente não aconteciam. Investi em relacionamentos abusivos, persisti em tentar mudar pessoas, comportamentos, persisti no trabalho que não me dava nenhum tesão. Fui arrogante. Fui insistente.

E não, desistir não é a pior opção. É a personificação de que você pode largar, pode abandonar, pode se livrar de condutas inadequadas, de pensamentos estranhos, de frases e atitudes que te machucam. É possível desistir e recomeçar.

É possível desistir de ouvir um “entendi” como resposta, quando se diz “eu te amo” pra alguém. É possível desistir de que seu sonho de estar com alguém pra sempre vai durar quando se ouve “não quero dormir com você esse fim de semana”. É possível desistir e abrir mão de uma atitude em que se rejeita aquele que te chama de companheiro, pra que a gente se auto conheça, em primeiro lugar.

E se está a fim de desistir, desista. Com fé. Desista das pessoas que não te querem, das famílias chatas, dos padrões e dos carros da moda, das amizades e dos colegas falsos. Desista de ser aquele você que hoje você já não é nem sombra.

Não precisamos ser fortes até a morte, não precisamos lutar até cair, não precisamos tentar ficar calmos, pois em algum momento as coisas se ajeitam. Podemos ser fracos, não ficarmos calmos e desistir (só um pouquinho) de nós. Pra recomeçarmos muito mais leves.


Sombra do que costumava ser



Ele não queria ter ficado triste. Sabia que, se ele chorasse, seu sentimento de culpa iria adentrar àquela casa e ia ser difícil sair.

Estava disposto a ficar acordado até o dia seguinte só pra se lembrar. À luz acesa, pensou no filme que estava passando, e que já havia assistido com ela. Adoravam filmes ruins na madrugada. Também teve vontade de chorar, mas se segurou. Dormiu segurando o controle remoto nas mãos.

Naquela manhã levantou e nem fez o café, pois sabia que ficaria aguado como sua vida atual. Queria mesmo era falar pra ela sobre aquilo que viveu, de suas músicas favoritas, e de tudo que ele agora amava. Seria capaz de passar aquela tarde chuvosa contando sobre cada banda que ele adorava. Sabia que suas histórias iam fazê-la rir, e ele amava aquele sorriso.

Queria ter falado pra ela passar o fim de semana, e que ela tivesse aceitado. Acordariam juntos, iriam ao parque, receberiam amigos queridos para o almoço, conversariam de tudo e fariam com que o dia fosse inesquecível. E no fim da noite, de maneira mais inesperada, teria pedido sua mão em casamento.

Queria pedir pra ela cantar antes de dormir. Apenas ficou imaginando qual música ela escolheria pra ele. E resolveu ficar ouvindo-a, sem parar.

Sentia que aqueles olhos grandes perturbavam-lhe, às vezes. Sua pele macia era como um novelo de lã, daqueles bem felpudos com que os gatos ficam brincando. E o cheiro? Ele amava sentir aquele perfume.

Teriam passado a vida juntos naquela casa, pra sempre. E seriam muito felizes.

Se ao menos por um único dia ela tivesse estado lá.

sábado, 6 de outubro de 2018

Só vai acontecer se você quiser (parte 2)




O grande problema: 12 Kg em qualquer dieta é muito peso. Mas com 150 kg, não me diminuiu nenhuma medida. Tenho que confessar que desanimar era um fato, mas não foi uma escolha.

Com muito incentivo desses profissionais incríveis,  consegui seguir adiante até julho. Naquele mês fizemos 29 treinos em 31 dias, e 7 kg se foram. Eu estava com 117 kg e muitas medidas a menos. Afinei!

Foi também naquele julho de 2013 que eu corri meus primeiros 3 km de distância, em 20 minutos ininterruptos. E aquilo que parecia impossível começou a tomar forma.

Os meses seguintes foram de treinos intensos, aumento de intensidade, fortalecimento e equilíbrio. A dieta já não tinha mais o lanche da noite, e aquela fome insistente começava a diminuir. A dificuldade virava hábito.

Em dezembro de 2013 eu estava pesando 106 Kg. Estava correndo 18 km, completamente focado na dieta e nos treinos. Fui pra Orlando correr a meia maratona da Disney, mas sem saber se ia conseguir. Deixei de fazer 2 provas de 10 km por vergonha.

Meu treinador me alertou que eu ia ter que andar alguns quilômetros pra concluir a prova, porque eu “não tinha terminado nenhuma meia maratona”. Essa conversa terminou com uma mensagem de texto do Chico, na largada:

-        “Deixa de ser bobo, é claro que você vai conseguir, aliás, já conseguiu!”.

Terminei a corrida da Disney em 2h12min, com um sorriso enorme no rosto e carregando 46 kg a menos do que aquela pessoa da foto no Japão. Minha rotina de exercícios e alimentação segue até hoje, ainda com o personal do Chico, o acompanhamento da Gabi e a participação em um grupo de corrida inacreditável, o “Outra Fé”. Estou com atuais 88 Kg.

A mensagem que fica é: as coisas só acontecem se você quiser! Pode ser em uma dieta, em um relacionamento abusivo, em uma queda de auto estima ou em várias coisas que tirem o seu sono.

Portanto: Queira! E se alguém um dia tirar uma foto sua, lembre-se: você nunca será igual àquilo que você foi ontem!


Cada pessoa é a número 1 pra si mesma! 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Só vai acontecer se você quiser (parte 1)




Em dezembro de 2012, foi em uma viagem pro Japão que iniciei a jornada mais longa da minha vida (e nem estou falando da distância à terra do Sol Nascente).

Ao entrar em um trem na estação de Shinjuku (jamais vou esquecer), uma das passageiras pegou seu celular, apontou pra mim, fez o foco e tirou uma fotografia, daquelas que você tira quando vê alguém famoso na rua, sabe?

Não, mas eu não era famoso, nem conhecido. Eu era ocidental e pesava... 150 Kg. Aquilo foi um sinal de alerta, um gatilho mesmo, para que eu começasse a rever e a repensar o meu estilo de vida, daquele momento.

Em geral quem é gordo (e não usarei “fofinho” nem “fortinho”, pois acho um desrespeito imenso) é meio bonachão, bem-humorado e risonho. Eu não era. Era mau humorado e chato, ácido na maioria das vezes, e tinha colocado a gordura como desculpa para muitas das coisas que eu não conseguia fazer.

Mesmo assim precisei de um segundo “disparador” para tomar a decisão de emagrecer. Meu personal trainer da época me disse, em fevereiro de 2013,  que não iria me dar mais aula, afinal eu só faltava e não queria nada com nada. Minha frase:

-       Ok, vamos emagrecer então!

E juro que não sei como o Chico (meu professor de ginástica até hoje) teve paciência. Ele me pediu pra escolher um esporte (eu escolhi a corrida, algo que mudou a minha vida), e que o processo não era linear e talvez fosse bem demorado e árido.

-       “Mas você precisa me colocar uma previsão semanal de quantos quilos perderemos!”. Eu,  como sempre, a ansiedade em pessoa.

Tenho que reconhecer que foi pela nossa amizade que ele me respondeu, porque qualquer outro teria me mandado à m... A meta seria 1 Kg por semana e uma meia maratona em janeiro de 2014. A cereja do bolo era que eu “nunca faria a São Silvestre com aquele monte de gente”. Decidimos pela meia maratona da Disney.

Além do Chico, preciso dividir esses créditos com a Gabriela, minha nutricionista. A pessoa que perguntou “o que eu comia antes de dormir” e a minha resposta foi “ah, um x-salada ou um misto quente”. E que ainda ouviu a clássica frase:

-       Não adianta você me dar uma dieta de 1000 calorias porque eu não vou fazer!

Também com a maior paciência do mundo, e com um lanche depois do jantar, Gabi me ajudou a começar a dieta semanal que mudava quinzenalmente. E assim foram-se 12 semanas, e 12 kg!